domingo, 10 de maio de 2015

A poesia de Lara Amaral


manhã
trem descarrilado que avança
cão sem dono que me atropela
abortados ao nascer do dia
entendem essa vocação
espreguiço até quebrar os ossos
separar as sílabas
nada para reformar o ser
mas o homem diz que estou apenas
o homem parte de mim
muito maior que eu
saiu de dentro e sumiu
o que eu quero sempre excede
me mata e segue em paz
a missão
tenho ossos de gelo nessa manhã
como na anterior
e na próxima quebrarei paradigmas
ao me esticar ao máximo
e continuar viva
mesmo sendo essa gelatina
invertebrada
a se arrastar para a rodoviária
escorrendo no vão do metrô
parecendo existir enquanto cresce
a paixão diária
de me abraçar aos trilhos

(LARA AMARAL)

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