manhã
trem descarrilado que avança
cão sem dono que me atropela
abortados ao nascer do dia
entendem essa vocação
espreguiço até quebrar os ossos
separar as sílabas
nada para reformar o ser
mas o homem diz que estou apenas
o homem parte de mim
muito maior que eu
saiu de dentro e sumiu
o que eu quero sempre excede
me mata e segue em paz
a missão
tenho ossos de gelo nessa manhã
como na anterior
e na próxima quebrarei paradigmas
ao me esticar ao máximo
e continuar viva
mesmo sendo essa gelatina
invertebrada
a se arrastar para a rodoviária
escorrendo no vão do metrô
parecendo existir enquanto cresce
a paixão diária
de me abraçar aos trilhos
(LARA AMARAL)
(LARA AMARAL)
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