O que o encantava era a maneira delicada com
que ela ajeitava os bichos de pelúcia nas prateleiras da loja de brinquedos.
Ela os enfileirava e lhes dava tapinhas para deixá-los mais fofos. Dia após
dia, durante meses, ele se sentou à mesa do boteco em frente à loja só para
vê-la em seu trabalho de vendedora de brinquedos.
Um dia atravessou a rua:
— Moça, aquele coração de pelúcia, por favor.
— O rosa, senhor? Embrulho para presente?
Às 19h00, do dia 20 de maio de 2006, Samara
fechou a porta da loja. Não tinha pressa, dali até o ponto de ônibus, costumava
caminhar por 10 minutos, o ônibus passaria em 20 minutos. Não tinha pressa.
Quando chegasse em casa contaria uma história bem bacana para sua menininha e a
colocaria para dormir. A noite estava bonita, mas naquele dia, em especial,
também estava estranha e mais escura. Apertou o passo. Olhou para trás e
decidiu correr. E correu muito antes de desistir.
Ele gostou de vê-la correr com seus saltinhos
batendo no asfalto vazio.
Sorriu. Ela era delicada e miúda como os
brinquedos que costumava vender.
Samara não voltou para casa naquela noite.
Samara não voltou para casa nos dias e anos seguintes.
A loja de brinquedos precisou contratar outra
vendedora.
E, depois dela, outras.
mariza
lourenço
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